O foco deste blog não é política, é claro.
Mas, de vez em quando, abro uma exceção a mim mesmo para falar de assuntos fora
do escopo da literatura e das artes. Hoje é um dia desses.
Não sou muito afeito a falar de política,
assim como não sou muito afeito a falar de religião. Política e religião não
são questões de argumentação lógica, mas sim de convicções individuais, na
maioria das vezes inexplicáveis pelo argumento e pela lógica.
Ainda assim, acompanhando toda a cobertura do primeiro
turno das eleições feita pelo canal Globo News no domingo (05/10/2014) e assistindo a todos os debates presidenciais neste segundo turno, particularmente
o último, veiculado pela Rede Globo em 24/10/2014, eu senti a necessidade de
compartilhar algumas reflexões pessoais.
ESTADO DE SÃO PAULO
Começo com o meu estado, o lugar onde
nasci, cresci e moro. Como já era esperado, Geraldo Alckmin (PSDB) se reelegeu, no primeiro
turno e pela quarta vez, para o governo do estado (aliás, ganhou de lavada).
Motivo: o estado de São Paulo é extremamente
conservador, elitista e absolutamente cético em relação à políticas
assistenciais de quaisquer tipos, aqui consideradas meramente moedas de
troca. Não que tais políticas não sejam moedas de troca. Sim, elas são e, mais
do que isso, são a base de formação da famosa “massa de manobra”. Contudo, aqui em
São Paulo as pessoas parecem ter uma consciência expandida erraticamente em relação a tal aspecto.
A população da cidade de São Paulo aprendeu, ao longo de vários mandatos, o que é
melhor para si. A grande São Paulo, o
interior e o litoral do estado, que constituem o grosso da massa de eleitores, não
aceita esse aprendizado, tanto que elegeu de novo Alckmin, Marcos Feliciano, Celso
Russomano, Tiririca etc. Em suma, a maior parte da população de São Paulo
prefere a aristocracia tucana, a homofobia feliciana, a falta de noção
russomaniana, a estupidez tiriricana e, novidade da vez, a mais do que
comprovada incompetência de José Serra, eleito senador pelo estado. Essas
escolhas refletem o tipo de eleitor que constitui a média da popular da assim
chamada “lo(u)comotiva do país”.
Não há muito o que dizer. Há, sim, muito a
lamentar. Mas é isso que o paulista, na sua extrema arrogância, quer para si.
Mesmo que a escola pública em que seu filho estuda seja péssima em todos os
sentidos, trata-se de uma escola pública do estado de São Paulo que, só por
isso, é, por imanência, infinitamente melhor que qualquer outra escola pública
do país. Não interessa se falta água para milhões de pessoas na cidade e no
estado de São Paulo, pois o fato é que é
o estado de São Paulo, e mesmo a falta de banho aqui é mais valiosa que um
banho bem tomado no Amazonas, ou o “CC” daqui é mais cheiroso, por ser do
estado de São Paulo, do que o “CC” de Minas Gerais. Não faz a menor diferença
se a USP está ou não falida, pois é a USP, e isso basta.
O paulista vive, em sua imensa maioria,
envolto em uma ilusão de grandeza que não permite que enxergue nada a seu lado
ou diante de si, que dirá a sua volta. E essa ilusão não é imposta por ninguém,
mas sim auto-imposta: somos
bandeirantes desbravadores, somos ricos, somos a locomotiva do país, somos o
estado mais desenvolvido em tudo, não precisamos de esmolas para nada. É isso
que o paulista aprende quando vai à escola (que o Brasil não existiria, por
exemplo, sem as bandeiras paulistas). É assim que o paulista pensa. É assim que
o paulista age, mesmo que more em uma das diversas favelas do estado ou que lhe
falte comida na mesa. Logo, se vive em uma situação completamente ilusória
criada por e para si mesmo(a), não é de espantar que deseje um governo de
ilusões, como é qualquer governo do PSDB.
O estado de São Paulo adora governantes
que ajam como Maria Antonieta, já que se considera, dentre outras fantasias de
grandeza, a França brasileira: “se não têm pão, que comam brioches”, “se não
têm água, que tomem champanhe”. É o típico pensamento que causa um deleite
quase orgástico no paulista médio e, quando o paulista “menos favorecido
financeiramente” (ainda que ele(a) não acredite nisso, já que ele(a) é
paulista, e simplesmente não existem paulistas “pobres”...) clama por uma
atuação mais efetiva do governo PSDB no campo social, tal governo se utiliza de
ideias do governo PT e cria, por exemplo, para usar a brincadeira de José Simão, o muito apropriado programa
Meu Banho, Minha Vida, algo que até o
candidato psdbista à presidência da república parece querer copiar na política
de desenvolvimento do país (obviamente, o programa Meu Banho, Minha Vida é um chiste de José Simão, mas eu não
duvido que a ideia tenha perpassado a mente de Alckmin e seus asseclas para
resolver, a partir de uma leitura deturpada, corrompida e fantasiosa do
programa petista Minha Casa, Minha Vida, o problema da falta d’água no estado).
A dificuldade maior, ou melhor, a única
dificuldade, já que para a maioria está tudo bem, é para os paulistas
dissidentes, “reacionários malditos”, “esquerdistas desgraçados comedores de
criancinhas”, ou pessoas que gastam muito tempo pensando ou não acreditam em
ilusões, como eu e alguns (poucos) outros. Sabendo de tudo isso que descrevi, sou
obrigado a sobreviver nesse mundo de ilusões criado pelo PSDB e tão real nas
mentes da grande maioria da população paulista que me rodeia (inclusive entre
meus próprios colegas de profissão, que, teoricamente, deveriam compor a “massa
pensante” do estado).
Na condição de professor de respeitada universidade
pública estadual, meu chefe maior na hierarquia é o próprio governador do
estado, e eu tenho que conviver com isso, querendo ou não, mesmo sabendo e
sendo vítima de todos os desmandos desse governador; como cidadão, vivo em uma
cidade governada pelo PSDB que passou, em dez meses, de uma das cidades mais
ricas do estado para uma cidade falida, e também sou obrigado a conviver com
isso ou, se não, a mudar de cidade (quiçá de estado).
José Simão diria para eu pingar um colírio
alucinógeno nos olhos e seguir em frente. O problema é que colírios
alucinógenos já não estão mais funcionando, pois já não dá mais para continuar
fingindo que o sucateamento da educação pública de São Paulo não é um processo
já bastante avançado, que a corrupção tucana não é crônica no estado todo, que
todos os mensalões não começaram aqui neste estado e em Minas Gerais sob os
auspícios psdebistas, que o preço da comida no estado não é maior do que em
todos os demais estados do país etc.
De fato, o assistencialismo petista chega
a ser vergonhoso: é bolsa família, bolsa gás, bolsa para tudo. Se eu pensasse
psdebisticamente, é fato que eu trabalho o mês inteiro para que 27,5% do meu
salário bruto seja dado de graça para o pagamento de bolsas que, sim, eu sei,
só servem para gerar massa de manobra, pois não resolvem nenhum problema do
país. Mas eu prefiro que esses 27,5% do meu salário sejam transformados em
bolsas assistencialistas, mesmo discordando dessa prática, do que
embolsados pelos diversos mensalões tucanos que existem no meu estado e no
resto do país. Pelo menos, sei que meu dinheiro está ajudando a resgatar alguém do abismo da miséria.
Infelizmente, se eu quiser, vou ter que
engolir (e ficar caladinho, ou estou encrencado) a segunda opção: por mais 4
anos, quase um terço do meu salário será sim utilizado para o pagamento de
mensalões diversos, dentro e fora do estado de São Paulo, e para ser embolsado em esquemas sujos de corrupção enquanto eu trabalho
feito uma mula para conseguir 70 pontos anuais em uma planilha de avaliação que
considera apenas a quantidade de coisas que eu produzo como professor e
pesquisador, e não a qualidade dessas coisas; enquanto eu pago R$ 15,00 por um
pacote de arroz, não por ele ser um arroz melhor, mas porque ele é vendido no
estado de São Paulo, onde todos são ricos e felizes; enquanto eu pago R$ 25,00
por um quilo de carne não por ela ser filé mignon, mas por ela ser um coxão
mole vendido no estado de São Paulo, onde todas as pessoas são melhores do que
todo o resto dos habitantes do país; enquanto eu pago R$ 200,00 em um simples
par de sapato não porque é de grife ou coisa que o valha, mas porque é vendido
no estado de São Paulo, onde tudo é infinitamente mais caro porque... bem... é
o estado de São Paulo, e todos podem pagar mais caro porque se é mais caro, é
melhor; enquanto eu pago 18% de ICMS sobre absolutamente tudo que eu compro não
porque esse imposto será revertido em melhorias nos serviços estaduais, mas porque
o imposto no estado de São Paulo é mais caro porque é o estado de São Paulo, e
aqui adoramos pagar impostos mais caros para mostrar ao país que vivemos em um
lugar tão abençoado que está, em todos os sentidos, acima de
qualquer realidade.
Ah! Sim, claro. A culpa de tudo isso é do
PT.
Não! Do PT não! Da pessoa de Dilma Rousseff.
MARINA
Marina Silva podia ter feito a diferença
nestas eleições. As urnas mostraram que ela era um nome representativo, e
certamente poderia ter ido para o segundo turno não fossem suas posições
voláteis, seus ataques infundados ao PT e suas intransigências. Marina poderia ter constituído
uma terceira via diferenciada, provavelmente viável, ao PT e ao PSDB, mas Silas
Malafaia e Jair Bolsonaro a “influenciaram” a ficar quietinha na dela. Ah! Sim,
Marina é facilmente influenciável pela famigerada bancada evangélica, uma
neoplasia maligna que tem se agravado cada vez mais nesse país e, se continuar
nesse ritmo, logo levará a nação à inevitável e irreversível metástase.
É claro que Marina só pode se aliar a
Aécio Neves no segundo turno, visto que seria totalmente incoerente um apoio ao
PT de Dilma depois dos posicionamentos tomados por ambas, ainda que Marina seja
cria do próprio PT e, é claro, como Fernando Henrique Cardoso (que, apesar de
praticamente ninguém se lembrar, estava no momento oficial de fundação do PT em
1980 como petista), agora renegue suas origens e cuspa descaradamente no prato
em que comeu durante a maior parte de sua carreira política.
Marina é o típico político
sentimentaloide: ressente-se facilmente de uma palavra e de um olhar
atravessado, ainda que, como todo bom político, sua língua esteja pronta, a
todo instante, para atacar e/ou falar sandices absurdas. Na verdade, é por isso
que ela apóia Aécio: por pura birra, já que o PT esfacelou suas máscaras
políticas.
Por sorte, o eleitor de Marina não tende a
ser tão volátil e sentimentaloide como ela própria: no geral, neste segundo
turno, quem votou em Marina nas regiões sudeste e sul votará em Aécio, enquanto
quem votou em Marina nas regiões nordeste, norte e centro-oeste votará em Dilma
(sim, infelizmente, este país é polarizado dessa forma).
A implicação disso tudo é que a carreira
política de Marina Silva, a partir destas eleições, pode estar morta e enterrada.
Sim, ela obteve 22 milhões de votos, mas isso foi em grande parte pela tragédia
de Eduardo Campo, cujo falecimento foi utilizado e reutilizado incessantemente
como massa de manobra (veja a declaração de Aécio após o final da apuração em
05/10/2014); a partir do momento em que se aliou ao PSDB para o segundo turno, Marina
teve todo o “projeto político de uma vida”, como ela mesma gosta de colocar,
descaracterizado e absorvido pela oligarquia psdbista (além do retorno da pobre
alma penada de Chico Mendes do Além apenas para assombrá-la pelo resto de seus
dias); se ela se aliasse ao PT, soaria excessivamente falso depois de uma
campanha de troca de farpas (além dela ter que se explicar com Lula); se ela
ficasse em cima do muro, como fez na eleição passada, atestaria em definitivo
que sua atuação e presença no cenário político nacional é indiferente.
Em suma, Marina está em uma situação na
qual qualquer escolha resulta em problemas para sua carreira
política. Típico caso de político que não sabe fazer política.
Foi um prazer, Marina!
Até algum dia!
DILMA & AÉCIO
Para terminar esses diletantismos em
política, vou contar uma historinha (bem pior do que as Historinhas do Aecinho
que a gente encontra no site da Dilma). Uma historinha real, já que aconteceu comigo.
Em março de 1999 eu comecei meu curso de
Letras na UNESP – Araraquara. Mário Covas (PSDB) era então governador do estado
de São Paulo e aquele era também o primeiro ano do segundo mandato de Fernando
Henrique Cardoso (PSDB) na presidência da república.
Durante 4 dos 5 anos em que fui aluno
universitário, os 4 anos que coincidiram com o governo FHC na presidência e
Mário Covas/Geraldo Alckmin no governo do estado, eu tive que trabalhar durante
o dia para poder estudar à noite. O curso, apesar da inegável qualidade, não
oferecia absolutamente nada além das aulas e de sua estrutura acadêmica: a
universidade era de fato elitista,
praticamente não se via negros ou indígenas no campus, não havia nenhum tipo de
oportunidade para nada (a possibilidade de fazer parte da graduação no
exterior, com bolsa do governo, não existia; PROUNI não existia; ajudas de
custo com alimentação e moradia não existiam; políticas de permanência na
universidade não existiam; bolsas de Iniciação Científica eram restritíssimas,
e seus pagamentos eram sempre feitos em atraso; FAPESP era algo mitológico e
inacessível).
Que fique muito claro: não é que as
oportunidades existiam mais ou menos ou existiam e não funcionavam. Elas
simplesmente NÃO EXISTIAM, e não existiam não por causa da má vontade ou indolência
de reitores, diretores de campus, coordenadores de curso, chefes de
departamento ou professores, mas por que qualquer proposta de abertura de
oportunidades era imediatamente tomada como reacionária, assistencialista e
contra os preceitos dos governos do país e do estado.
Só estudava em universidade pública quem
tinha plenas condições de arcar com seus custos, e pessoas pobres, da classe
trabalhadora, como eu e minha família, ou não tinham a menor possibilidade de
acesso à tal instituição, ou tinham que trabalhar arduamente durante o dia e
fazer um esforço hercúleo para estudar à noite (notem que eu estou falando do
final do século XX, não de suas primeiras décadas).
Lembro-me, como se fosse hoje, levantar às
6h da manhã; entrar para trabalhar em uma fábrica às 7h; sair do trabalho às
17h; não ter tempo de ir para casa para tomar um banho ou comer, pois o ônibus
para a universidade saía às 18h do centro da cidade (eu tinha que caminhar da
fábrica onde trabalhava até o centro da cidade); entrar na aula às 19h; sair da
aula às 23h e finalmente chegar em casa à meia-noite e meia e ir tomar banho,
comer alguma coisa, estudar etc., para só então ir dormir e, no dia seguinte,
começar tudo de novo às 6h da manhã.
Essa foi minha rotina diária por 4 anos,
enquanto meu pai se matava de trabalhar em subempregos para poder conseguir pôr
comida na mesa de casa, onde ele tinha 4 bocas, além da sua própria, para
alimentar.
Dramático? Essa é só uma história dentre
muitas semelhantes que eu ouvia de meus colegas de turma, e está longe de ser a
pior delas.
Brasileiro não desiste nunca? Não. Pessoas
em busca de melhores condições de vida não desistem nunca.
Lamentável coincidência? NÃO EXISTEM
COINCIDÊNCIAS.
Sim, é isso mesmo, simples assim. Eu tive
que vivenciar isso e abrir meus próprios caminhos por que o governo do PSDB não
oferecia qualquer oportunidade, em qualquer nível, em qualquer lugar, para que
fosse diferente. Não, pelo menos, para aquilo que eu buscava: um trabalho
decente e uma vida melhor. Mérito meu? Com certeza é mérito meu mesmo, e só meu;
me orgulho muito disso e é por causa disso que sou um partidário ferrenho da
meritocracia. Mas, poderia ter sido diferente se houvesse algum tipo de
oportunidade (e a oportunidade caminha junto com a meritocracia), por mínima
que fosse, que pudesse ter tornado os meus méritos menos sofridos e menos
física e emocionalmente desgastantes. Eu poderia ter estudado mais, me dedicado
mais, conhecido mais, descansado mais, me preparado mais se os governos do país
e do estado tivessem alguma política de acesso, alguma política social, alguma
política de incentivo que fosse.
Hoje, meus alunos na universidade lutam,
por exemplo, por melhorias nas políticas de permanência estudantil. Ou seja,
essas políticas, pelo menos, já existem.
Eu tive que me virar numa época em que a
mera menção à “políticas de permanência estudantil” era tratada como caso de
polícia e reprimida pelos rigores da lei, pois é assim que o PSDB administra as
coisas: para e elite, e por meio da violência e da repressão. Não existe
diálogo com o PSDB, e não preciso lembrar ninguém sobre como foram tratados os
professores, funcionários e alunos das 3 universidades públicas do estado de
São Paulo, entre maio e setembro deste ano, quando aqueles buscavam melhorias
de salário e de condições de trabalho e foram considerados, pela gestão
Alckimin, como problemas de segurança
pública. Tropa de Choque neles!
O ano de 2003 foi meu último ano na
universidade e, “coincidentemente” (eu não acredito em coincidências em
absoluto...), o primeiro ano do governo Lula (PT). Ainda que Lula tenha herdado
o país falido depois de 8 anos de PSDB, já nesse primeiro ano as coisas
começaram a indiciar alguma melhora na minha vida e na vida de minha família,
pois meu pai conseguiu um emprego melhor e pôde, por exemplo, comprar um carro
(usado).
Em 2004 consegui dar um passo importante
na minha carreira, que foi entrar no mestrado. Também consegui um emprego
melhor, tendo surgido, por “sorte”, a oportunidade de iniciar minha carreira no
ensino público, o que significou muito para mim: retribuir os anos em que fui
aluno no sistema de ensino público (e toda a minha formação, do jardim da
infância ao doutorado, vem única e exclusivamente da escola pública) e,
principalmente, poder me libertar da ditadura segregadora, embrutecedora e
emburrecedora que é o trabalho na iniciativa privada, principalmente em
indústrias de produção de bens de consumo (as preferidas e favorecidas pelo
PSDB), o que, acreditava eu (e o tempo me fez ver que eu estava certo), seria a
catapulta para uma melhoria efetiva de vida.
O tempo passou. Sob os ventos
transformadores do governo Lula, eu concluí meu mestrado no início de 2006 e,
ao final desse mesmo ano, prestei os exames para o doutorado. Passei e, em
2007, iniciei essa jornada. Já nessa época, CNPq e CAPES, os principais órgãos
federais de fomento à pesquisa universitária no país, haviam sido saneados e
funcionavam como tinham que funcionar. Foi por causa desse saneamento promovido
pelo governo Lula que, entre 2009 e 2010, eu pude ficar um ano fazendo minhas
pesquisas de doutorado nos Estados Unidos inteiramente custeado pelo governo
federal em seu programa de bolsas para doutorado-sanduíche (pouco tempo depois,
já no governo Dilma, o programa Ciência sem Fronteiras seria criado,
facilitando ainda mais esse acesso). Desnecessário dizer que, se o governo
federal estivesse entregue à aristocracia tucana, tal oportunidade jamais teria
sido possível, já que, no pensamento psdbista, que é exatamente o mesmo
pensamento da iniciativa privada, educação é custo, não investimento, logo,
deve ser cortada.
Defendi meu doutorado no início de 2011,
nos primeiros meses do governo Dilma. Ao final daquele mesmo ano, prestei
concurso na universidade pública em que sempre estudei e, desde 2012, sou
professor do ensino superior, ainda que sob a ditadura PSDB que rege o estado
de São Paulo desde 1995.
Certamente, não fosse o saneamento e a
abertura de oportunidades (obviamente unidas aos meus próprios méritos) promovidos
pelo governo PT, eu não teria chegado onde estou e nem melhorado minhas
condições de vida.
Portanto, diante da minha própria
experiência de vida, Aécio Neves não tem autoridade, competência ou know-how alguns para falar qualquer
coisa sobre os assuntos que realmente interessam para o desenvolvimento do
Brasil, quais sejam Educação, Políticas Públicas e Economia.
O país do futuro que ele tanto prega, mas
que em nenhum momento define, é uma falácia, pois o governo PT possibilitou e
possibilita o acesso ao futuro hoje, aqui, agora, a quem nunca teve qualquer
oportunidade de futuro: os filhos dos trabalhadores e os próprios
trabalhadores. Hoje, por causa do governo PT, meus alunos podem lutar por
melhores condições de permanência estudantil porque EXISTE uma permanência
estudantil que pode ser melhorada. Hoje eu posso fazer meu pós-doutorado na
Inglaterra porque as políticas de fomento à pesquisa do governo PT abriram à
pessoas como eu, filho de trabalhadores do campo, semi-analfabetos, que nunca
tiveram condições de dar uma vida de confortos a seus filhos, esta
possibilidade antes simplesmente inexistente.
Só espero que o povo brasileiro, que tem
memória fraca, não ignore todas as melhorias que o governo PT lhe trouxe e,
neste segundo turno, faça justiça a si mesmo.
Senão, eu vou exigir minha Bolsa Cashmere,
já que no último dia 23/10/2014 a Avenida Faria Lima (avenida muito apropriada, por sinal), em São Paulo, presenciou um
espetáculo ridículo, deplorável e risível, chamado pela revista britânica The
Economist de Revolução de Cashmere.
Eis os links da notícia da Revolução de
Cashmere: