sexta-feira, 22 de agosto de 2014

HAPPY BIRTHDAY LITERATURES IN ENGLISH!


2014 é um ano de muitas comemorações para as literaturas de língua inglesa:





±1330 anos da morte de Cædmon;


450 anos do nascimento de William Shakespeare e de Christopher Marlowe;


340 anos da morte de John Milton;


325 anos do nascimento de Samuel Richardson;


265 anos da publicação de Tom Jones, de Henry Fielding;


260 anos da morte de Henry Fielding;


250 anos da publicação de O castelo de Otranto, de Horace Walpole, e do nascimento de Ann Radcliffe;


220 anos da publicação de The Mysteries of Udolpho, de Ann Radcliffe, e de Songs of Experience, de William Blake;


210 anos do nascimento e 150 anos da morte de Nathaniel Hawthorne;


175 anos da publicação de A queda da casa de Usher, William Wilson e Tales of the Grotesque and Arabesque, de Edgar Allan Poe, e de Oliver Twist, de Charles Dickens;


165 anos da morte de Edgar Allan Poe;


120 anos da publicação de Bayou Folk, de Kate Chopin;


110 anos da morte de Kate Chopin;


100 anos da publicação de Dublinenses, de James Joyce;


60 anos da publicação dos dois primeiros volumes de O Senhor dos Anéis (A Sociedade do Anel e As Duas Torres), de J. R. R. Tolkien.




Como professor de literatura inglesa, amante incondicional da língua inglesa e das culturas anglo-americanas, eu não poderia deixar de prestar essa singela homenagem aos mestres e mestras e aos textos literários em inglês que chegam a esse décimo-quarto ano do século XXI mais vivos, atuais, influentes e impactantes do que nunca.

O aniversariante mais celebrado do ano é, sem dúvida, o Bardo de Stratford, cuja obra é o legado mais importante das literaturas em língua inglesa.

Desculpem Itália, Alemanha e França, e bendita seja Albion, que recebeu a dádiva de ser o berço do maior gênio artístico do Ocidente.

O velho Shakespeare continua arrebatando corações, fazendo as pessoas pensarem, influenciando autores e artistas em geral e revolucionando a literatura e as demais artes. Quase meio milênio se passou e ainda continuamos a aprender e a nos encantar com a beleza e a força de suas palavras, de suas personagens, de seus temas e cenários.
Como costumo dizer, não haveria Ocidente sem Shakespeare. Os gregos nos legaram cultura, arte e filosofia, mas o Bardo nos legou uma alma.

Como todo apreciador das literaturas anglo-americanas tem seu Shakespeare particular, e apesar de reconhecer e louvar o brilhantismo de Hamlet, minha peça preferida do Mestre de Stratford é Macbeth. Mística, tenebrosa e gótica, é sua peça mais curta e, em minha modesta opinião, a mais impactante: as bruxas, Lady Macbeth lavando compulsivamente as mãos ensanguentadas, a floresta que anda, o homem não nascido de ventre de mulher, a manifestação de Hécate. A literatura, o cinema, os quadrinhos, os videogames e todas as demais artes de terror e horror devem, em boa parte, suas existências a essa peça.

Shakespeare também cometeu pequenos deslizes, é claro, ainda que seus pequenos deslizes sejam também divinos e proporcionais aos seus maiores feitos artísticos. Romeu e Julieta, por exemplo, é a peça do Bardo de que menos gosto.

Historinha de amor tola, o romance proibido dos jovens Capuleto e Montecchio é, para mim, o primeiro dramalhão mexicano do Ocidente. Novelas mexicanas, novelas da Globo e a saga Crepúsculo certamente não existiriam se Shakespeare tivesse queimado os originais dessa peça, o que teria sido um favor para a humanidade.


 

Outro aniversário célebre deste ano é o do um quarto de milênio de O Castelo de Otranto, o primeiro romance gótico, o texto que funda a ficção de terror e horror, publicado (um vaticínio?) no mesmo ano do nascimento de Ann Radcliffe, a rainha do gótico setecentista.

A ficção de terror e horror é um dos legados com os quais as literaturas em língua inglesa presentearam a tradição ocidental. Não há literatura gótica como a feita pelos anglo-americanos, e Hollywood e o cinema não seriam a metade do que são sem essa invenção inglesa.

O Castelo de Otranto funda essa tradição.

Romance teatral, curto, direto, cheio de ações e reviravoltas. Cada vez que leio Otranto tenho a impressão que estou diante de um roteiro de cinema, tamanha a quantidade de peripécias que existem em tão poucas páginas: elmos flutuantes que matam pessoas, quadros que se mexem, paredes que escorrem sangue, pedaços gigantes de cadáveres que aparecem do nada, catacumbas úmidas e sombrias, donzelas perseguidas que desmaiam a todo instante, heranças usurpadas, maldições, vilões desprezíveis e sacrílegos. Está tudo ali, arrebatador e dramático, exagerado e transgressor, como a boa ficção gótica deve ser.

Quem precisa de romance realista, de romance modernista, de experimentalismo de linguagem, da chatice das vanguardas quando se tem O Castelo de Otranto (mesmo que Modernismo, experimentalismo e vanguarda também sejam invenções anglo-americanas)? Digo sempre e reafirmo: realismo é para os fracos, e estou para ver literatura modernista e experimental que consiga prender a atenção e divertir a mente e o espírito como a ficção de terror e horror. Nesse ponto, Otranto e sua prole permanecem imbatíveis.


 

2014 é ainda o ano em que se comemora 60 anos da publicação dos dois primeiros volumes de O Senhor dos Anéis, de Tolkien.

De todo o imenso legado das literaturas em língua inglesa, a obra-prima de Tolkien constitui um marco sem precedentes para a ficção de fantasia dos séculos XX e XXI. Antes de O Senhor dos Anéis, só havia os contos de fadas e a boa literatura romântica para suprir a necessidade humana de enveredar pelas sendas mais recônditas da imaginação.

Em 1954 (ano em que minha mãe nasceu... coincidência?), Tolkien trouxe ao mundo o gênero alta fantasia e uma mitologia para o povo anglo-americano. Sua obra máxima abriu os grandes portais da imaginação e revelou um multiverso completamente novo, rico em detalhes e prenhe de infinitas significações. Uma alternativa inteligente, de altíssima qualidade, inspiradora e agradável às mesmices, bobagens e infantilidades do Modernismo.

Com isso, depois do gênero romance e da ficção de terror e horror, as literaturas de língua inglesa novamente legaram ao Ocidente uma novidade que rendeu e rende muitos e importantes frutos: a ficção de alta fantasia.

Graças a O Senhor dos Anéis, o RPG, os MMORPGs, os videogames, os graphic novels e toda a ficção fantástica moderna e contemporânea se tornaram possíveis e puderam estabelecer um padrão de qualidade tão ou mais elevado do que as literaturas realista e modernista.





Por fim, deixo meus parabéns e meu profundo agradecimento aos grandes Cædmon, Christopher Marlowe, John Milton, Samuel Richardson, Henry Fielding, Ann Radcliffe, William Blake (meu querido Blake), Nathaniel Hawthorne, Edgar Allan Poe, Charles Dickens, Kate Chopin (minha querida Kate) e James Joyce.

Sem os textos desses homens e mulheres, eu não seria quem sou e não teria a profissão que tenho, profissão que amo e que agradeço a todos eles pela felicidade que sinto a cada instante em ser um professor e pesquisador da área, bem como pelos maravilhosos frutos que tenho colhido graças aos seus legados.

E em 2015 teremos mais comemorações importantes: Beowulf, o primeiro texto das literaturas em língua inglesa, fará aniversário...